Chico Buarque l trecho de O irmo alemo, seu novo livro

Chico Buarque l trecho de O irmo alemo, seu novo livro

Mensagempor IAndrea » Ter Nov 04, 2014 08:39

RIO - A editora Companhia das Letras divulgou, na manh desta segunda, um vídeo em que o cantor e compositor Chico Buarque exibe a e l um trecho de seu , que chega s livrarias no dia 14 de novembro.

"O irmo alemo" é o quinto do , que completou 70 anos em junho. Seu último , "Leite ", foi lanado há cinco anos e venceu o Prmio Jabuti de do ano (foi a terceira vez que o ganhou o prmio).

Chico Buarque publicou seu primeiro texto em 1966, um "Ulisses", no songbook "A ", de 1966. Na década seguinte, ele lanou a " pecuniária" " " (1974) e o infantil "Chapeuzinho Amarelo" (1979).

Em 1981, chegou s livrarias o de "A bordo do Rui Barbosa", com texto de Chico e ilustraes do artista plástico e arquiteto Vallandro Keating.

anos mais tarde, Chico Buarque publicou seu primeiro , "", que já lhe rendeu um Prmio Jabuti e foi para o cinema no ano 2000, por Ruy .

"Benjamim", seu segundo , saiu em 1995. E também virou filme, com Paulo José no papel-título, contracenando com Cleo Pires, a direo de Monique Gardenberg (2003). No mesmo ano em que o filme chegou aos cinemas, Chico lanou o "Budapeste", que lhe rendeu seu segundo Jabuti e mais uma vez ganhou uma cinematográfica, do diretor Walter (2009).

Em 2010, a premiao de "Leite " do ano gerou uma polmica. A tinha ficado em segundo na , atrás de "Se eu os olhos ", de Edney Silvestre. O do ficou, por sua vez, atrás do de Chico no prmio principal, de do ano. Sérgio Machado, presidente do Record, que publicava Silvestre, ameaou no participar mais do Prmio Jabuti se as regras no fossem alteradas. No ano seguinte, o troféu literário determinou que só os primeiros colocados de cada poderiam concorrer a do ano.

Do , a Companhia das Letras divulgou, por ora, a e o vídeo em que Chico l um trecho (veja o vídeo e leia a transcrio ). Nele, narra as lembranas de um em relao do e intensa relao paterna com os livros.

Apesar de ainda ser cedo para assumir que o tenha traos autobiográficos, que Chico já se referiu algumas vezes, em entrevistas, a um -irmo mais que seu , Sergio Buarque de Hollanda, teria tido quando morou na Alemanha entre 1929 e 30. Ele se casaria com Maria Amé, me de Chico e seus irmos, em 1936. o , o compositor e explicou alguns detalhes em entrevista a Geneton Moraes Neto, em 2010: Eu tenho um -irmo alemo. No sei se ainda tenho. tive. O meu teve um alemo antes de se . , perdeu de , porque voltou para o Brasil, onde se casou. No se relacionou mais com a nem com o que teve na Alemanha. A última notícia que ele teve foi durante a . A pediu que o meu enviasse documentos provando que no tinha sangue até a segunda ou terceira gerao. O meu providenciou. da , no teve notícias.

LEIA TRECHO DE O IRMO ALEMO

do O irmo alemo, de Chico Buarque - Reprodução

", Ciccio, disse minha me, quando já lhe perguntei por que meu no escrevia um , uma vez que gostava deles. Ele vai o melhor libro del mondo, disse arregalando os olhos, ma prima tem que todos os outros. A do meu contava ento uns quinze livros. No superou os vinte , era a maior de So Paulo, da de um bibliófilo que, dizia meu , no havia lido nem um tero do seu depósito. Calculando que ele tenha livros a dos dezoito anos, posso tirar que meu no leu menos que um por dia. Isso sem os jornais, as revistas e a farta correspondncia , com os últimos lanamentos que por as editoras lhe enviavam. A maioria destes ele descartava já ao a , ou após uma rápida folheada. Livros que jogava no cho e mame recolhia de manh para no caixote de doaes . E quando ele se interessava por alguma , encontrava que o remetia a antigas leituras. Ento chamava com seu vozeiro: Assunta! Assunta!, e lá ia minha me atrás de um Homero, um Virgí, um Dante, que lhe trazia correndo antes que ele perdesse a . E a ficava de lado, enquanto ele no relesse o de a . Por isso no estranha que tantas vezes meu deixasse no um e adormecesse com um cigarro entre os dedos mesmo na espreguiadeira, onde sonharia com papiros, com os manuscritos iluminados, com a de Alexandria, para com a quantidade de livros que leria porque queimados, ou extraviados, ou escritos em línguas fora do seu alcance. Era tanta leitura para pr em dia, que me parecia improvável ele vir a o melhor libro del mondo. Por das dúvidas, quando ao do eu ouvia o toque-toque da má de , tirava os sapatos e prendia a respirao para ao do seu escritório. E me encolhia todo se por naquele ele arrancasse num ímpeto o papel do rolo, achava que em era de mim a raiva com que ele esmagava, embolava a e a arremessava . Outras vezes a má cessava para meu : Assunta! Assunta!, era alguma citao que ele precisava transcrever urgentemente de um . Com isso levava meses para , rever, rasurar, bolotas, recomear, , a e certamente para publicao o que seriam rascunhos do do da sua . Eram artigos estética, literatura, filosofia, história da civilizao, que ocupariam uma ou um rodapé de . Quando papai morreu, apareceu um editor a uma coletnea dos artigos assinados por ele ao da . Fui contra, cheguei a minha me a profuso de correes e emendas ilegíveis que meu sobrepusera ao texto ou anotara dos próprios artigos, recortados dos jornais. mame estava convencida de que o seria aclamado no acadmico, quiá editado até na Alemanha, graas aos escritos de concebidos naquele país. E ainda insinuou que a infncia eu procurava sabotar meu , haja aquele que por minha desfalcaria suas obras completas. Meia , porque era ao meu irmo que de tempos em tempos meu confiava um envelope a ser entregue na redao de A , do outro lado da cidade, para isso, além do do bonde, ele o remunerava com uma quantia suficiente para uma semana de milk-shakes. e meia meu irmo me repassava o do bonde e o envelope, que eu levava a pé redao. No me movia o , que pagava duas mariolas, eu ficava era todo prosa com tamanha . Ainda ganhei a dos funcionários do , e no me importava de por um estafeta do meu , em cujas mos despejavam mais umas moedas. certa vez, a da redao, parei para jogar um futebol de rua, era naquele . Carros circulavam só de quando em quando, e ao avistá-los ao os meninos gritavam: olha a ! recolhíamos as lancheiras, as pastas, os agasalhos que representavam as balizas e aguardávamos na calada a do para recomear a . nesse dia no foi o trnsito, foi uma chuva súbita que nos obrigou a nossas coisas e buscar a marquise de um empório. Chegou a , que catávamos do cho, chupávamos, atirávamos uns nos outros, uma . de repente calhou de eu me do envelope do meu , que eu deixara um pulver e estava no do . Corri para salvá-lo e por pouco no fui atropelado, pois naquele segundo passou um Chevrolet que agarrou o envelope com o pneu e só o soltou duas quadras adiante. Fui seus , e no havia remédio, o do meu era uma estranha cinzenta, uma maaroca de papel ".

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