USP vai receber mais de cinco mil cartas inéditas de

USP vai receber mais de cinco mil cartas inéditas de

Mensagempor PRafael » Seg Jun 03, 2013 06:17

USP vai mais de cinco cartas inéditas de intelectuais brasileiros

RIO - Quando Joo Guimares Rosa chegava perto das jaulas do zoológico de Munique, na Alemanha, girafas, macacos e elefantes se aproximavam. O olhava-os por trás dos óculos fundo de e conversava com todos eles. Seu , o Mário Calábria, observava a estabelecida com os animais. A girafa era uma amiga do de serto: veredas, já que o inclinava o pescoo e parecia tudo que lhe era .

Esta é uma das histórias a que, em , o público á e consultar. Mário Calábria morreu em junho de 2012, deixou um : cartas trocadas com grandes intelectuais brasileiros, s quais O teve .

Guimares Rosa, que gostava de as folhas com assuntos literários, é um. A correspondncia mais de cinco cartas trocadas com Jorge , Joo Cabral de Melo Neto, Afonso Arinos de Melo Franco, Manuel e muitos outros. Além de cultural, a coleo tem também para a história política do Brasil, por das misivas que Mário Calábria trocava com políticos e outros diplomatas. do Brasil na Alemanha Oriental, antes da do de Berlim, Calábria também acompanhou, mais tarde, as atividades culturais do Itamaraty naquele país, a organizao da Feira de Frankfurt de 1994.

, os herdeiros do diplomata querem tudo para uma instituio de . A surgiu que a filha Vera Lucia Calábria encontrou nos papéis do uma de Marta Rossetti, ento professora da Universidade de So Paulo. Biógrafa de Anitta Malfatti, ela pedia a ele, no documento escrito no dos anos 1990, que doasse seu instituio. Marta já faleceu, Vera procurou a USP, que se movimentou para o . A universidade enviou o de literatura brasileira Flávio Wolff dos Calábria, em Berlim, para a conservao do e seu .

Enviei USP. O é um cultural e está em ótimo . Também me surpreendeu a organizao dele. Tudo está em pastas e fichários afirma Wolff. E ainda há a , de livros raros o Brasil publicados na Europa, além de várias primeiras edies com dedicatórias.

As cartas trocadas com os intelectuais brasileiros chamam a ateno pela elegncia do estilo. Mesmo em assuntos que de literários no tm . Em 1962, por exemplo, a de Afonso Arinos teve uma infeco do siso que ficou feia. O , mesmo , estava com a cirurgia: O remédio é extrai-lo, isto representa um de da gengiva e do próprio maxilar. há um cirurgio , que opera em pomposo, com asistentes, enfermeiras, , ficando a paciente deitada, com o por um verde esterilizado etc. voc v, uma para quem no sofre nem asiste ao espetáculo. Ele e Calábria trocaram 125 cartas, durante 38 anos.

Já as escritas por Jorge no mostram uma relao de to próxima: o baiano comunica o envio de livros autografados. estou com o pé no estribo, ou seja, no avio, remeterei esses livros para voc de Portugal, onde estarei nos meados de novembro. Chegaro mais do que se eu os mandasse daqui, por maritma. A é de 1980. Em outra, Jorge agradece pelos recortes e xerox enviados a ele por Calábria.

O melhor era mesmo Guimares Rosa. que voltava Alemanha, Rosa ficava na da famí. Nas cartas, ele se refere aos filhos do os Trs Calabrinhas. Mário Calábria foi consultor informal na traduo para o alemo de serto: veredas, de Curt Meyer-Clason, a preferida do . Em nome de Guimares Rosa, o ajudava Mayer-Clason a traduzir termos do serto.

A correspondncia entre os dois chega quase a 200 cartas, só cessou com a de Guimares Rosa, em 1967, e está entre as travadas mineiro. Eles falam do cotidiano e de literatura, o que torna essa do um para pesquisadores interessados na rosiana. O também reclama da o Itamaraty tratava a literatura: Foi ela a gata borralheira, a irm , madrasteada no Departamento Cultural.

do quase veio tona em 2008. O Alexei Bueno visitou a de Calábria e conseguiu cópias de cartas. A editora -te-vi tentou , no chegou a um com os herdeiros de Rosa.

Outro foi o pernambucano Joo Cabral de Melo Neto. Os dois se conheciam os tempos de Instituto Rio e, por um período, foram próximos. Isto fica em uma de Cabral de 29 de novembro de 1945: Vejo que voc continua o mesmo lí de antigamente. já o conhecia, sei que o atual lirismo no é de cerveja. ás: há cerveja aí? Vejo também que voc continua adiando nosso . Veja se se decide, hombre!

a acabou rompida. Calábria foi por Cabral, em 1952, de uma que fez o ser tachado de e do Itamaraty. Mário Calábria afirmou no a . ele e o voltaram a se .

As cartas

Jorge

Salvador, 7 de outubro de 1980

Calábria,

Venho de a sua e fico sabendo quais livros faltam sua coleo: Tieta do , O gato malhado e a andorinha sinhá e Farda camisola de dormir. estou com o pé no estribo, ou seja, no avio, remeterei esses livros para voc de Portugal, de onde estarei nos meados de novembro. Chegaro mais do que seu os mandasse por ,

por marítima.

Recomendaes a todos os seus,

meus e de Zé.

Um abrao cordial do

Jorge

Guimares Rosa

Rio de Janeiro, 14 de novembro de 1964

Meu Mário,

De repente, houve o vácuo, fiquei com saudades, mais. Também está chegando o Natal, Weihnacht, as Festas, e quero pr , em papel e formulao, os votos, lautos, vivos, muitos, altos: de alegrias e para a Famí completa, os Calábrias usufruindo e sorrindo, festando: na terra aos de boa-. De vez em quando, torno a sentir-me em Munique. Vocs merecem ; e eu sou um dos que mais sabemos disso. , , o Oh tannenbaum... Vocs. Uschi abre uma lata daqueles frutti di mare, uma de Mosel ou de branca-berlinsa. Eu, também. Prosit!...

Voc já deve , esteve a Snra. De Siervi. E gostei dela, conversamos de . Sua gente é de primeira. (...)

Por aérea, recebi o primeiro de CORPO DI BALLO, roba da Feltrinelli, uma . Achei a traduo estupenda, notável, insuperável, meyer-clasoniana. (...)

Abrao do

Guimares Rosa

Joo Cabral de Melo Neto

Londres, 3 de janeiro de 1945

Meu Mário:

Coincidncia: sua me chega na manh mesma em que lhe estou mandando seus trs Mirós. , a última que voc me fez está respondida. Botei dedicatória no seu e deixei os outros em . voc os oferece, voc é que deve dedicá-los.

Vejo que voc continua o mesmo lí de antigamente. já o conhecia, sei que o atual lirismo no é questo de cerveja. ás: há cerveja aí?

Vejo também que voc continua adiando o nosso . O Geraldo, com quem estive há dois dias em Paris, também prometeu vir e no veio. Veja se se decide, hombre!

abrao. (...)

Do seu

Joo Cabral de Melo Neto

Afonso Arinos de Melo Franco

Genebra, 15 de junho de 1962

Compadre,

(...) Anah teve uma repetio daquela infeco dentária que a fez sofrer uma operao a bordo, há de 30 anos. Coincidncia curiosa: em 1932 ela veio se em Genebra . Felizmente, desta vez, no só a infeco foi menos séria, também a operao pois se trata de verdadeira operao pode ser feita em menos e com menor . (...) Provocada dente siso no osso da , e que nascera, que, de repente, provoca dores fortes e inflamao do . O remédio é extrai-lo, isto representa um de da gengiva e do próprio maxilar. há um cirurgio , que opera em pomposo, com assistentes, enfermeiras, , ficando a paciente deitada, com o por um verde esterilizado etc. voc v, uma para quem no sofre nem asiste ao espetáculo. O é que ela perdeu trs quilos (...)

abrao do compadre e ,

Afonso Arinos

Colaborou Graa Magalhes-Ruether, correspondente em Berlim

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