A América de House of Cards: onde só os fins,

A América de House of Cards: onde só os fins,

Mensagempor SJulia » Dom Fev 16, 2014 02:22

A América de House of Cards: onde só os fins, e no os meios, interessam

WASHINGTON - Só há uma : cace ou seja caado, diz Kevin Spacey, na de Francis Frank Underwood, grudado na cmera, com o maquiavélico que é ao protagonista da série-sensao House of cards. o do trailer promocional da segunda cujos 13 episódios esto liberados esta sexta-feira no Netflix (a quem no asistiu a primeira, : há spoilers neste texto). Nos novos capítulos, o vice-líder da maioria democrata na Cmara, em vice-presidente americano por exclusiva de suas abomináveis articulaes, á a pr em seu ao Salo da Branca, em parceria com a , a inescrutável e to-ou-mais-ambiciosa Claire (Robin Wright). No , vai de manipular, chantagear, , trapacear, intrigas e cace ou seja caado . Nem adianta ; em seu léxico no há ideologia ou nobres fins que justifiquem os odiosos meios. Ele faz tudo o que for , , em nome de seu projeto de .

House of cards é um thriller irresistível. seu condutor também atia a imaginao dos telespectadores nos EUA, descrentes no modus operandi da Washington : quantos Underwoods habitam a política americana?

O presidente Barack Obama, da série, tuitou na véspera da , advertindo interlocutores para que no lhe contassem antes que ele tivesse chance de os novos capítulos. Roteirista e da produo de US$ 100 milhes do Netflix, Beau Willimon no deixa dúvidas de que House of cards é um da América. A diferena entre o seu escroque protagonista e políticos reais, diz, reside na de a dramaturgia carregar bastante nas cores.

House of cards é uma viso extrema da política e do disse Willimon nas entrevistas de promoo da segunda . Todos os políticos so assasinos ou tm a disposio para serem assasinos. A série dramatiza característica própria dos políticos, a de o impronunciável, a de um ou 100 soldados para a .

O de um é a mais arilosa das armaes de Frank na primeira . Para os detratores da série, um de seus desdobramentos mais inverossímeis. no é o de contato entre fico e . O impronunciável que aproxima o vilo de Kevin Spacey de tantos políticos da é a impiedosa de sacrificar procedimentos, valores e o para objetivos edificantes ou no.

E 2014 comeou provando a tese. Enquanto os fs iniciavam a regresiva para o lanamento da segunda de House of cards, Jersey entrava em ebulio política com a revelao de um esquema de intimidao operado gabinete do governador republicano Chris Christie, possível pré-candidato a presidente em 2016. Sem papas na língua, Christie é o típico trator político que, dizia-se, era vingativo. Só no se sabia quanto.

Em janeiro, soube-se. Dois meses antes de sua reeleio de lavada, em novembro do ano , um de seus homens de confiana na administrao mandou duas das trs pistas na cidade de Fort Lee que levam ponte George Washington, que Jersey a Manhattan e é a mais movimentada dos EUA. Foram dias de caos na prefeito democrata se recusara a endossar a candidatura de Christie. A operao foi desencadeada após um e-mail do gabinete do governador que dizia: hora de problemas no trnsito de Fort Lee.

Abriu-se a torneira. A prefeita de outra cidade, Hoboken, acusou a vice-governadora de abordá-la num estacionamento com um de Christie: ou ela apoiava um de urbanizao para o , ou daria adeus aos recursos destinados recuperao dos estragos provocados furaco Sandy que devastou áreas inteiras de Jersey e matou gente em 2012.

Em blogs na internet, quase instantaneamente, pipocaram comparaes de Christie com o vilo de House of cards. Porém, no anedotário político americano, o governador é fichinha. Frank Underwood, para muitos analistas, é na um Lyndon B. Johnson.

Uma das raposas da política americana, o democrata LBJ foi implacável senador, vice-presidente e presidente. De promessas de cargos e de obras a ameaas de fiscal e de de bases militares to cruciais a regies do país, a violncia física parece ficado fora de seu cardá para vencer obstáculos. Quando o é o método, a mais recorrente é que LBJ sabia ninguém um brao.

Em sua monumental biografia de LBJ, no , o Robert destrincha várias das artimanhas do presidente que sucedeu a Kennedy. Texano, Lyndon Johnson chegou ao de 1963 com o maior do , o Houston Chronicle, na . No havia engolido o a Richard Nixon em 1960, preterindo a Kennedy-Johnson. No suportava mais as críticas constantes sua vice-presidncia e, , sua atuao comandante-em-. E ento agiu.

O principal acionista do era também de um banco, que submetera ao de aprovao para uma fuso com outra instituio. O mercado financeiro estava . O banco americano e as autoridades antitruste eram contra. A interveno do presidente seria decisiva e LBJ resolveu cobrar por ela. O preo: uma asinada pelos donos do prometendo incondicional ao presidente enquanto ele ocupasse a Branca. A chegou. A mudana editorial foi imediata. E, uma semana , a fuso dos bancos estava aprovada.

LBJ, no entanto, também foi o presidente de avanos sociais invejáveis. De suas articulaes nasceram o Medicare ( de saúde público para idosos), os programas da , um monumental de impostos e a histórica de Direitos Civis, que acabou com o aval segregao racial nos EUA. Lyndon Johnson é lembrado majoritariamente por estas vitórias e no pela as conquistou.

Mesmo Chris Christie, enquanto foi o governador que equilibrou as combalidas finanas estaduais, garantiu ouvidos moucos da populao de viés democrata de Jersey para o ti-ti-ti em torno de seus métodos. Assegurou uma aprovao recorde, que o alou ao status de estrela do Republicano.

Será que há fins que justificam os meios?

Achei admirável a Steven Spielberg mostrou que até Abraham Lincoln, o presidente mais santificado de nossa História, estava a coisa para com a escravido, que ele no dava a mínima se tivesse que cargos a pessoas, que conseguisse os votos para com que considerava mais . Se isso acontece hoje, é um escndalo provocou Kevin Spacey, em entrevista ao repórter Eduardo Graa, para O , semana .

House of cards levanta ainda outra questo da moderna política americana: a influncia do nas decises nacionais. Os Underwood so intrinsecamente ligados a uma companhia de gás , a SanCorp, principal lobista no Congresso é o ex- de de Frank. Nas discusses entre ambos, sobram cobranas dos favores prestados e lembranas quo pode ser um rompimento. Faltam consideraes a melhor política energética para o país. Num dos episódios, Frank no deixa dú o que a relao: ele comanda 67 deputados que precisam das doaes da SanCorp para sua sobrevivncia eleitoral.

Na , antes o do lobby foi to no dia a dia da política nos EUA. Estratégias a paralisao do para forar o desmonte da da saúde de Barack Obama e a oposio ferrenha da imigrao encabeadas recentemente senador republicano Ted Cruz, um queridinho do ultrarradical Tea Party tm fomentadoras entidades conservadoras a Heritage Action e a FreedomWorks. Esses grupos tm em a de e os canais diretos com peso-pesados corporativos os irmos Koch da petroquí, pelos quais fluem abundantes recursos para e reputaes do próprio Republicano.

As entidades, num primeiro , financiam anúncios de rádio e TV e ligaes automáticas nos distritos dos congressistas que rompem com as posies desejadas, questionando as credenciais conservadoras do . , trabalham candidaturas extrema- para pela nomeao do nas eleies seguintes. Receosos de perderem doaes e os mandatos, muitos deputados e senadores tm (2014 é ano de renovao total da Cmara e de um tero do Senado), e o tem sido o show de obstrucionismo no Congresso, nas duas últimas legislaturas.

O toma-lá-dá-cá se espalha por outras esferas do . ano, dois políticos famosos nos EUA se sentaram no banco dos réus acusados de corrupo. O ex-prefeito de Orleans Ray Nagin, mandatário durante o furaco Katrina, que chegou ao embalado pela de ficha limpa, foi em 20 acusaes de e administrativa. Recebeu US$ 200 em propinas (em , cheque, viagens e servios) em de US$ 5 milhes em contratos da cidade. O ex-governador da Virgínia Bob McDonnell e sua esto sendo julgados por aceitarem menos US$ 160 em empréstimos, joias, de grife e estadias em resorts de golfe de um empresário estadual.

No jogo de espelho entre fico e , há ainda uma especulao que House of cards. Frank, o , e Claire, de uma ONG internacional de limpa, formam o que o jargo de Washington de power couple, um com ótimas conexes, excelentes posies, compromisso com os objetivos um do outro e, de preferncia, construo de um projeto de para benefício mútuo. Seriam eles inspirados em Bill e Hillary Clinton?

20 da política americana, Bill e Hillary esto há quatro décadas executando seu de . Os Clintons cultivaram amizades, alvejaram inimigos, amealharam fidelidades e construíram a maior rede de doadores da política americana. Trabalham, articulam e mandam juntos do do Arkansas Branca, da ONG Clinton Global Initiative operao que pretende faz-la a primeira comandante-em- dos EUA, em 2016.

O ex-presidente disse a Kevin Spacey que adora House of cards e que ele e Hillary asistiram primeira em trs dias. A daí, o intérprete de Frank Underwood joga água na fogueira de identificao:

Embora Bill e Hillary sejam os mais famosos, eu acho que provavelmente há vários casais de Washington para os quais voc poderia e esse é um que funciona, um pautado que eles esto fazendo e com o que se importam. extraordinário, eu acho, duas pessoas capazes de sobreviver por eles. E eles so pessoas melhores hoje do que quando comearam. Esto fazendo um incrivelmente . E ainda temos que se ela decide concorrer quele ...

na esteira dessa escorregadia que House of cards, com a terceira já garantida, vai fazendo história. O sucesso da série ao público parece ser inversamente proporcional ao fracasso dos homens públicos o eleitorado. Na TV, os americanos querem expostas as mazelas do político no qual o Congresso fecha o e ameaa um calote da maior economia do e o presidente autoriza espionagem em da privada dos cidados.

Com uma diferena que fez os espectadores salivarem na primeira : entre uma e outra maquinao maquiavélica em própria, Frank Underwood comandou uma grandiosa do educacional dos EUA. Até Obama invejou, em com o chefo do Netflix em dezembro, o desempenho dos parlamentares da fico.

Kevin Spacey no dispensou a ironia.

Até o , nós temos e no digo crítica, é que é o Congresso mais da História dos EUA. Deve ser interessante para as pessoas a um Congresso fictício que servio.

SJulia
 
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