por MMiguel » Dom Out 16, 2011 12:21
Lula, como Brizola, é um grande comunicador. Mas, como Brizola também, é um grande populista.
A característica fundamental desse tipo de líder é, como escreve o professor Pierre-André Taguieff (A Iluso Populista - Ensaio sobre as Demagogias da era Democrática, Paris, Flammarion, 2002), que se trata de um demagogo cínico. Demagogo - no sentido aristotélico do termo - porque chefia uma verso de democracia deformada, aquela em que as massas seguem o líder em razo de seu carisma, em que pese o fato de essa liderana conduzir o povo sua destruio. O cinismo do líder populista já fica por conta da duplicidade que ele vive, entre uma promessa de esperana (e como Lula sabe fazer isso: "Os jovens devem ter esperana porque so o futuro da Nao", "o pré-sal é a salvao do brasileiro", e por aí vai), de um lado, e, de outro, a nua e crua realidade que ele ajudou a construir, ou melhor, a desconstruir, com a falncia das instituies que garantiriam a esse povo chegar lá, utopia prometida
Lula acelerou o processo de desconstruo das instituies que balizam o Estado brasileiro. Desconstruiu acintosamente a representao, mediante a deslavada compra sistemática de votos, alegando ulteriormente que se tratava de mais uma prática de "caixa 2" exercida por todos os partidos (seguindo, nessa alegao, "parecer" do jurista Márcio Thomas Bastos) e proclamando, em alto e bom som, que o "mensalo nunca existiu". Sob a sua influncia, acelerou-se o processo de subservincia do Judiciário aos ditames do Executivo (fator que nos ciclos autoritários da História republicana se acirrou, mas que sob o PT voltou a ter uma periclitante revivescncia, haja vista a dificuldade que a Suprema Corte brasileira tem para julgar os responsáveis pelo mensalo ou a censura odiosa que pesa sobre importante jornal há mais de dois anos, para salvar um membro de conhecido cl favorável ao ex-mandatário petista).
Lula desconstruiu, de forma sistemática, a tradio de seriedade da diplomacia brasileira, aliando-se a tudo quanto é ditador e patife pelo mundo afora, com a finalidade de mostrar novidades nessa empreitada, brandindo a consigna de um "Brasil grande" que é independente dos odiados norte-americanos, mas, certamente, está nos causando mais prejuízos do que benefícios no complicado xadrez global: o País no conseguiu emplacar, com essa maluca diplomacia de palanque, nem a direo da Unesco, nem a presidncia da Organizao Mundial do Comércio (OMC), nem a entrada permanente do Brasil no Conselho de Segurana da ONU.
Lula, com a desfaatez em que é mestre, conseguiu derrubar a Lei de Responsabilidade Fiscal, abrindo as torneiras do Oramento da Unio para municípios governados por aliados que no fizeram o dever de casa, fenmeno que se repete no governo Dilma. De outro lado, isentou da vigilncia dos órgos competentes (Tribunal de Contas da Unio, notadamente) as organizaes sindicais, que passaram a chafurdar nas águas do Oramento sem fiscalizao de ninguém. Esse mesmo "liberou geral" valeu também para os ditos "movimentos sociais" (MST e quejandos), que receberam luz verde para continuar pleiteando de forma truculenta mais recursos da Nao para suas finalidades políticas de cl. Os desmandos do seu governo foram, para o ex-líder sindical, invenes da imprensa marrom a servio dos poderosos.
A política social do programa Bolsa-Família converteu-se numa faca de dois gumes, que, se bem distribuiu renda entre os mais pobres, levou dependncia do favor estatal milhes de brasileiros, que largaram os seus empregos para ganhar os benefícios concedidos sem contrapartida nem fiscalizao. Enquanto ocorria isso, o Fisco, sob o consulado lulista, tornou-se mais rigoroso com os produtores de riqueza, os empresários. "Nunca antes na História deste país" se tributou tanto como sob os mandatos petistas, impedindo, assim, que a livre-iniciativa fizesse crescer o mercado de trabalho em bases firmes, no inflacionárias.
Isso sem falar nas trapalhadas educacionais, com universidades abertas do norte ao sul do País, sem proviso de mestres e sem contar com os recursos suficientes para funcionarem. Nem lembrar as inépcias do Inep, que frustraram milhes de jovens em concursos vestibulares que no funcionaram a contento. Nem trazer tona as desgraas da saúde, com uma administrao estupidamente centralizada em Brasília, que ignora o que se passa nos municípios onde os cidados morrem na fila do SUS.
Diante de tudo isso, e levando em considerao que o Brasil cresceu na última década menos que seus vizinhos latino-americanos, o título de doutor honoris causa concedido a Lula, recentemente, pela prestigiosa casa de estudos Sciences Po, em Paris, é ou uma boa piada ou fruto de tremenda ignorncia do que se passa no nosso país.